Verity — Colleen Hoover (2018)

Marcela Antonechen
4 min readApr 1, 2021

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Confesso, ontem viciei na leitura de Verity de Colleen Hoover. Não tem maiores segredos, apenas isso. Como já é meio óbvio, após minha leitura de Teto para Dois, não sou a leitora mais assídua de livros hypado nas redes sociais. Quando digo isso não é por “ser uma leitura culta”, mas por mero gosto pessoal. Gosto ter contato com os livros ditos como “grandes títulos”. Mas estaria mentindo se não admitisse que Colleen Hoover fez um trabalho majestoso.

O enredo é narrado por Lowen, uma escritora que assina um contrato milionário para terminar a série famosa de Verity, que ao contrário da protagonista é uma escritora muito rica. Será no ambiente familiar trágico (duas filhas mortas em acidentes e a Verity em coma) que Lowen terá interações com Jeremy, marido de Verity, e o filho mais novo, Crew. É bem notável que todos os familiares são estranhos, e a própria casa tem uma aura pesada — deixa o leitor desconfortável o tempo todo.

Verity é um livro de fluxo constante. Todos os capítulos sem bem rápidos e raramente vai acontecer de uma cena ser lenta a exaustão. A narrativa direta e objetiva é boa para prender o leitor, principalmente se for um iniciante e apenas quer algo divertido. Alguns detalhes são desnecessários, e, o meu ver, cortaria quaisquer falas que não agregam ao quadro final ou relações. Mas não vou reclamar disso porque tenho duas ressalvas bem maiores e que me fizeram tirar duas estrelas na nota final.

O mistério principal nasce com o acesso de Lowen aos arquivos pessoais e a mencionada autobiografia. Há quem diga que menos é mais, porém, olhando o quadro geral esperava um pouco mais do final e do desfecho do grande segredo. Principalmente no fator de terro psicológico e na violência. Senti falta de um fator mais pesado, algo que realmente me chocasse nesse sentido. Uma morte trágica mesmo, agora apavorante e pura violência.

Não que tenha sido ruim, apenas sinto que o final — no último do último parágrafo, não parecia ser. Apesar de ser meio preguiçoso, não houve uma entrega de bandeja do plot twist, mas foi um desenvolvimento regular.

Na verdade, a única coisa mais infeliz na minha opinião foi a ausência de respostas mesmo que duvidosas no final. Havia mais personagens além do triângulo amoroso Lowen, Jeremy e Verity. Os filhos são plano de fundo de tragédias. Além deles, havia a enfermeira April, uma personagem ativa e interessante no drama. Por que raios ela dizia tudo aquilo e sumiu? Aliás, onde foi parar a enfermeira?

Enfim, final é aberto. Não se sabe uma versão verdadeira, tampouco o que será de Lowen com toda informação. Embora minha crítica, não reclamo final em aberto. De verdade, adoro quando a história não me dá um be-a-bá sobre os personagens, mas deixa uma ponta solta e um pequeno “e se” na minha cabeça. É quase como a Hoover colocasse a história no meu colo e perguntasse: em quem você acredita?

Minha resposta seria: não sei, não confio em narrativa em primeira pessoa.

A outra reclamação é a necessidade quase absurda da autora colocar cenas de sexo ou descrever qualquer ação de Jeremy como sexual. Em alguns momentos é muito vergonhoso ler sobre como o simples caminhar, respirar, troca de olhares deixam Lowen de pernas bambas. Cenas de sexo explícito não são necessariamente um problema, entretanto, quando levadas ao extremo se tornam vergonhoso. Muito vergonhoso. E isso porque se perde a graça. Tem muito disso, para quê vou ler mais uma cena de sexo?

Há alguns diálogos e cenas que são bregas e me davam vontade de rir. Mesmo que fosse um momento tenso. Podia ser uma relevação, uma conversa séria. A forma que a cena foi construída na minha cabeça me deixou todinho risinho.

Dos personagens, Lowen é irritante. É o clássico arquétipo da escritora de alma escura com nuvens e trovões na sua cabeça. Aquela que vive sem sorriso, sem se arrumar, mas que continua linda, atraente. Entendo que a “condição” dela, mas, não é justificativa. Jeremy também um personagem péssimo e muito, ênfase no muito, pouco confiável. Na verdade, enquanto lia não consegui dar um crédito a ele. Não tinha uma ação que não soasse estranha ou perturbadora. Será um problema meu ou do personagem? Jamais saberei.

Por incrível, gostei de Verity. Ela tem camadas e segredos. Não tem como confiar qual Verity é a verdadeira. Quanto mais entrava na trama e a conhecia, menos sabia o que é real e o que é mentira. Diferente dos outros dois, Verity é uma personagem de fato mistériosa. Não tem como saber se estava mentido. Sinceramente, Verity é uma personagem digna de usurpadora, genial.

Por fim, digo ser uma boa leitura. Não é necessariamente espetacular, mas gera boas teorias e paranoias no decorrer. Também é fácil de ler, de embarcar na história. Recomendo para quem quer começar a ler mais. Dá um bom gás, anima para próximas leituras mais densas.

Nota: 3,5/5 Leitura de março 2021.

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Marcela Antonechen

Bacharel em Direito, barista de final de semana. Escrevo memórias, a vida e um pouco de leituras.