(Resenha) The Bromance Book Club, de Lyssa Kay Adams (2019)

Marcela Antonechen
7 min readJun 30, 2022

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Com preguiça de upar foto no momento, futuramente tiro uma top. (crédito: Amazon)

É sempre um problema conversar sobre livros mais recentes ou modernos de forma aberta e clara, o que tenho tentado. O problema não está em desenvolver uma análise, ou ser menos chata, e sim na questão dos livros que fazem sucesso.

O Clube dos Livros dos Homens é um romance adulto escrito pela Lyssa Kay Adams e publicado pela primeira vez em 2019. Conhecido por ser uma comédia romântica, a primeira vez que fiquei sabendo dele foi por uma lista de indicação no YouTube.

Poderia inserir vários comentários de como a sinopse parecia algo e, sem ver resenhas, peguei para lê-lo semana passada, mas, é mais divertido dissecar o livro. Portanto, vamos ao que interessa.

Um resumo rápido sem spoiler, mas importante

A história começa com a separação de “boca” de Gavin Scott, um jogador de baseball, e sua esposa Thea. O que sabemos é que Gavin descobre que sua mulher não está feliz em certos aspectos da vida, e por ironia do destino, ele está em uma fase boa da vida. Comenta-se muito sobre o time de baseball dele e o fato de ter marcado um grand slam, mas como observaremos no decorrer do texto: nada disso importa.

E invés de conversar, como casais de verdade fazem, Gavin e Thea rompem em uma briga. Neste fundo do poço enfrentado pelo protagonista, conhecemos o Clube do Livro dos Homens — um grupo formado por atletas profissionais que usam a literatura para “entender as mulheres”.

Será, após as leituras do clube, que Gavin retornar para casa e conversa com Thea. Visando o “bem das filhas”, ambos concordam que terão um prazo para restabelecerem como um casal, sabendo que se caso fracassarem, o divórcio estará certo.

Aqui já temos um clichê batido: o homem teimoso que quer continuar o relacionamento e a mulher, muitas vezes cansada, que deseja somente uma coisa: a separação. Essa ladainha de separação, cansaço e insistência continuará durante toda história e servirá tanto para Thea ser inusportável, ou para Gavin ser um porre.

Portanto, nesse ambiente bem comum de comédia romântica que o livro terá um desenvolvimento decepcionante, como veremos.

Desenvolvimento sucateado em 320 páginas

É interessante a proposta do livro se ela não fosse tão forçada. Infelizmente o conteúdo do Gavin é a totalidade da história, sendo o lado que mais recebe um desenvolvimento no decorrer dos capítulos. O lado oposto dele, Thea, sofreu de vários sucateamentos e cortes para moldar-se na história, mas vamos com calma.

Ao iniciar a história, Thea aparece decidida a derrubar uma parede, provando ao leitor que consegue viver sem Gavin. Esse recurso de uma mulher recém revoltada com a ilusão do amor é uma ferramenta batida. Troque a parede por uma mudança de emprego, corte de cabelo, emagrecimento — posso fazer uma lista completa de várias cápsulas de fuga das personagens femininas.

De toda forma, lá está Thea, derrubando uma parede com marretadas irregulares. Nesse processo, somos apresentados a mais três personagens que deveriam compor seu núcleo familiar; duas filhas e uma irmã caçula. É também, nessa mesma cena, que a escritora coloca em Thea feridas do passado, traumas do casamento e divórcio de seus pais.

Portanto, Thea é uma mulher nova que acabou sendo mãe por um “acidente”. Mas ela também é mais, segundo o enredo: ela quer cursar artes e se formar, quer fugir do grupo de esposas por serem todas “cobras”, quer fugir do casamento do pai, pois seu passado é “machucado demais” para viver novamente. Thea apresenta diversos pontos, porém, no seu desenvolvimento será ofuscado para algo melhor e maior: Gavin.

Todos esses pontos que te mostrei agora são levantados por Thea em conversa com a irmã caçula, ao início da história. Ela decide que vai atrás da faculdade, do divórcio e será a mulher que foi sempre. Porém, dois capítulos para frente, ela cede no divórcio. E do meio do livro ao final, Thea não comenta mais da faculdade da mesma maneira. Há uma pequena menção sobre ter passado, mas nada além.

Alguns outros personagens também são jogados fora com a necessidade mais importante que conversamos abaixo. A irmã da Thea, Liv, consegue ter duas cenas importantes. A família de Thea e os problemas do passado são retratados de verdade em meio capítulo, ao final do livro.

Thea é jogada de lado porque o desenvolvimento de Gavin envolve algo mais importante que a história: a cena hot.

Afinal, qual é o problema do hot no livro?

O problema quando um livro insere hot com a finalidade de apenas cena de sacanagem é exatamente essa: perdem-se pontos importantes da história.

Não há problema do livro ser “adulto” (se isso o faz adulto de verdade). Há problemas quando a proposta principal fecha isso: na cena de sexo.

Quando Gavin decide conquistar a mulher e sabemos de todos os problemas além do sexo, esperamos que eles também sejam abordados. A educação superior, a família, a responsabilidade, deveriam ser assuntos da história juntos ao sexo e não jogados de lado.

De fato, no decorrer da história Gavin tenta mudar isso. Há passagens onde ele levar a esposa à loja de artigos de artes. Ele também se presta a ser mais presente na vida das meninas, fazer tarefas domésticas, mas tudo visando uma única possibilidade: transar com Thea.

Sendo sincera: o ponto-chave da história é isso: dar ao Gavin a oportunidade de tocar sexualmente em Thea.

Quando o livro chega nos “finalmente” de Thea e Gavin, as descrições de hot são gigantescas. Contudo, não é dado o mesmo espaço para que Gavin amadureça, que Thea tenha oportunidade de explorar essa questão familiar — lembrando que não precisa ser triste ou tão profundo, é possível um desenvolvimento amigável com o leitor também.

Outro ponto que a cena hot também atrapalha nas histórias é na questão de amadurecimento. Quando o livro tem esse conteúdo adulto é como se todos adultos deixassem de ser maduros, tornassem apenas adolescentes.

Por isso:

A falta de amadurecimento nos personagens

Sinceramente, para quem já leu outra resenha minha neste site sabe bem: a falta de amadurecimento de personagens me irrita. De verdade, qual é o problema das histórias?

O que vejo são livros trazendo “adultos” com “problemas de adultos”, mas, na prática, são personagens com mentalidade pior que adolescente?

Estamos falando de adultos que possuem mais de vinte e cinco anos. A Liv é insuportável, uma personagem infantilizada que não consegue ter nenhum comportamento normal. A construção dela é ridícula ao ponto que em, determinado momento, uma das crianças da história é mais madura e compreensiva que ela.

Outro personagem retratado da mesma forma é o “rival” do Gavin. Em todo instante as provocações dele não refletem a aparência ou de um homem adulto, parecendo mais diálogos de adolescente, até mesmo com a escolha de provocações.

Claro que vamos coroar a rainha da personagem inútil na história e, de quebra, mais infantil: Rachel. A rival da Thea no grupo de esposas do time é descrita como uma “madame” elegante, porém, em nenhum momento é retratada de fato como tal.

Tanto Raquel, tanto Liv, são mulheres estereotipadas, presas de um único padrão. Liv é retratada como a irmã engraçada, maluquinha, meio grossa e chega a ser apenas ridícula, mas não protetiva. Raquel, uma rival madame, invés de demonstrar a graça e educação frisada na ideia de ser “rica”, é tratada como uma mulher fútil, sem conteúdo algum.

Por mais que fosse possível a criação de uma personagem mais fútil, mas útil ao enredo, o livro sacrifica e prefere torna Thea como a única personagem feminina destaque com plena capacidades mentais. Afinal, Thea será o alvo de Gavin. A mulher “baixinha”, perfeita, linda e que, diferente das outras, possui bom-senso.

Por fim, comentários importantes

No início dessa resenha, pensei se valeria escrever sobre um livro que apesar de várias críticas, ainda me divertiu. Para ser sincera, quando comecei o esboço do texto, pensei em chamá-lo básico, porque é um bom divertimento.

Infelizmente, quanto mais pensei no livro, mais me pareceu certo reclamar de alguns pontos.

O Clube dos Livros dos Homens é um seriado da Netflix e sem pretensão, deveria ser tratado como tal. Não apresenta um enredo bom, o desenvolvimento é decepcionante e a conclusão da história é um desastre óbvio. Porém, acredito que a leitura não precisa ser profunda sempre, tampouco me fazer pensar na vida, nos porquês.

Às vezes à leitura deve ser exatamente o que foi: uma diversão boba no final de semana. Mesmo sendo algo bobo e gostoso de passar algumas horas mergulhado, acredito ser necessário tecer as críticas que fiz.

Não se trata da necessidade de reclamar ou de ser chata, mas sim reconhecer os defeitos da obra e avisar: esse livro não trata de problemas sobre traumas, tampouco conseguirá te propor um conforto sobre o amor. Ele será um livro com cenas de excitante e concentrado no desenvolvimento do sexo, apenas isso.

Está tudo bem sobre isso. O problema é prometer além do que se pode cumprir.

NOTA: 3/5

Ps: acredito ser oportuno um comentário sobre a nota e aqui vai o porquê: em um determinado momento um dos jogadores do time de Gavin pergunta o quão mal ele está e outro, um insuportável, responde “ao ponto de ouvir Ed Sheeran”. Já estive tão mal ao ponto de ouvir Ed Sheeran, acredito ser um parâmetro bom de “quão na merda estou”.
Ps²: descobri aqui, revisando este texto, que o Clube do Livro dos Homens é originalmente batizado de “The Bromance Book Club”. Pela primeira vez na vida, estou decepcionada com a tradução.

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Marcela Antonechen

Bacharel em Direito, barista de final de semana. Escrevo memórias, a vida e um pouco de leituras.