Resenha — Teto Para Dois — Beth O’Leary (2019)

Marcela Antonechen
4 min readFeb 7, 2021

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Teto Para Dois pela Intrínseca

Por onde começo a descrever o livro mais vergonhoso e que me deixou com a cara de paisagem digna de Jim Halpert em The Office? Pois, então, difícil resenhar um livro sem me deixar cair nessa tentação. Mas hoje, um domingo de sol, me dou a oportunidade de destilar um pouquinho do meu ódio.

A história tem início com a busca por um novo lar para Tiffy, uma redatora de vinte e oito anos. Sim, ela é única, diferente e assim como quase todas as personagens de comédia romântica: trabalha com livros. Com a recém-separação, Tiffy acaba aceitando a oferta peculiar de Leon, um enfermeiro da mesma idade que não demonstra ter planos ou maiores ambições na vida. É assim que a história introduz os dois, e não demora muito para trazer as duas maiores problemáticas: a prisão injusta do irmão de Leon e o relacionamento abusivo de Tiffy com seu ex-namorado.

Teto Para Dois é um livro junta temas importantes como racismo no judiciário, relacionamentos abusivos e de relacionamentos homossexuais, porém, sem dar o tratamento mínimo para ser considerado um livro de pauta, e aqui começam os problemas.

Temas profundos, pouco desenvolvimento

Destrinchando o livro em migalhas, os temas que mencionei serão tratados no decorrer do drama. Porém, o problema mora exatamente nessa necessidade de abordar temas importantes.

Quando um livro deseja tratar a prisão injusta fundada no preconceito racial ou o relacionamento abusivo, deve fazer isso com o mínimo de respeito, desenvolvimento e principalmente com uma conclusão justa. Estamos falando de um livro com 400–500 páginas, mas em nenhum momento importante esses temas ganham da necessidade de preencher páginas com diálogos e descrições inúteis da personagem principal.

Por isso, quando a trama chega no auge dos temas, o sentimento é de uma discussão superficial. Não há uma maior exploração, apenas martela os pontos superficiais, óbvios e que não agregam em nada no final da história. Então por que raios há tais temas no livro?

Será mesmo que os temas de racismo no judiciário e a homossexualidade estão sendo tratados ou usado como plot inferior para tirar o livro da mesmice e ganhar medalhas por isso?

Com o fim da leitura, cheguei a conclusão que as questões abordadas no enredo não são feitas para desenvolver, mas apenas como token. É uma medalha, um troféu a ser exposto no final. “Olha como esse livro retratada o racismo/relacionamento abusivo”. Importante mencionar que o grande ápice de superar o relacionamento abusivo da protagonista é dito com ela ouvindo músicas “girl power” e sentindo-se “empoderada”. Podemos concluir que o livro não se importa em trabalhar esses temas, simplesmente usa como um pilar fraco e mal estabelecido.

Personagens que dizem ter vinte e oito anos, quando

Sou uma mulher de vinte e cinco anos, embora não seja madura para algumas piadas (aquelas bem quinta série), não sou mais aquela jovem imatura em relação aos assuntos normais dos adultos. A principal característica do amadurecimento é ter outra postura em situações que se tornam normais. Logo, não há mais aquele espanto com assuntos que devem ser normais a qualquer adulto, sabe?

Mas não é o ocorre em Teto para Dois. A protagonista diz ter vinte e oito anos e ser uma mulher independente, forte, que vive sozinha (no decorrer do livro), mas a autora esqueceu de descrever. É entregue uma mera adulta de vinte e oito anos se comportando como uma adolescente de dezesseis anos. A relação dela com o sexo, a vida normal, a própria carreira soa como uma adolescente.

Já aproveitando o gancho, Leon é o personagem mais planta e sem graça possível. O “mister” perfeição, que não tem erros, e quando tem os consertar do nada, sem um conflito de vontades. A personalidade dele é fraca, mutável. Não tem um defeito, nenhum momento. Leon é o centro da figura masculina perfeita escrita por uma mulher que sequer prefere o deixar um pouco mais real.

Em resumo: a personalidade do casal é formada por uma mulher de dezessete anos e por um homem que é no máximo uma planta. Eles não sabem lidar com uma cena simples, não conseguem ter um conflito porque senão soam como adolescentes — e o namoro perfeito não tem conflitos em momento algum, certo?

(Errado)

E por fim, a escrita

Caramba, agora sim o momento que fiquei mais brava ao ler. A narrativa é construída pela alternância de capítulos sendo um da Tiffy e outro do Leon. Tudo bem, tudo certo. Vem cá, Beth O’Leary, me explica uma coisa: por que raios você muda A NARRATIVA COMPLETAMENTE da porcaria do livro e acaba com o ritmo?

Sério, os capítulos do Leon são tão mal escritos que fui à versão original para checar. E adivinha? A mesma porcaria, ou seja, problema da autora mesmo.

Não, não quero um capítulo com a narrativa em primeira pessoa extensa de coisas que não quero saber e não tem relevância. Tampouco os capítulos do Leon que são mal escritos, mal produzidos e mal estruturados.

Enfim

O livro é, no máximo, mediano. É OK para quem quer algo sem compromisso, sem empenho, sem trabalho. Sinceramente, é um dos livros mais relapsos que tive a oportunidade de ler.

Nota: 2,5/5. Leitura janeiro 2021.

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Marcela Antonechen

Bacharel em Direito, barista de final de semana. Escrevo memórias, a vida e um pouco de leituras.