Aos fins dos últimos anos

Marcela Antonechen
3 min readFeb 17, 2022

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Em 2022 encerrei ciclos da minha vida, despedi-me de pessoas queridas que fazia parte do meio convívio e resolvi, de uma vez por todas, que colocaria fim a uma dor antiga. É estranho escrever em primeira pessoa e sobre meus sentimentos, sabendo que nos últimos cinco anos evitei me expor, de abrir uma ferida e principalmente: de parecer vulnerável. Foi com o final da minha faculdade, a troca de emprego e com o fim de um sentimento que percebi a necessidade: precisava voltar, me colocar no centro, de ter uma voz na minha cabeça.

Não acredito que esse texto será publicado, e caso seja, terá data de validade disponível, porém, mesmo assim, quero apenas me expressar, trazer um pedaço meu de volta. Na verdade, esse texto é, de forma pública, minha última jogada de terra nos últimos cinco anos. Uma maneira de despedir disso tudo e poder focar no futuro.

Desde 2017, tenho pensado no meu amadurecimento. Há muitos erros que cometi nesses anos, pessoas que machuquei, pessoas que me machucaram. A vida é assim: não somos sempre o lado sofrido, tampouco o lado que erra sempre. Isso, foi a maior lição que aprendi: não tem como acertar e errar, muito menos abraçar o mundo. Não há ser humano vivo ou morto que tenha conseguido dar conta de todos, e por que me cobro disso? É bobo, é infantil. Tentar ser a salva-vidas de quem está ao meu redor enquanto me afundo mais e mais, ou pior: me culpo de não ter sido possível de ajudar, de salvar. Essa reflexão em particular dedico à terapia dos últimos anos, mas que de uma vez por todas entendi o ponto-chave para isso.

Entendi que nem todo meu amor e dedicação é o suficiente e há batalhas que, simplesmente, não valem. O mais inteligente ato é dedicar esse amor, compreensão e devoção a mim mesma, para saber que no final do dia, eu dei o melhor para quem mais me acompanha: a Marcela. Talvez por isso me cerquei com a ideia de ler, de investir em âmbitos que gosto e escrever.

Ainda sobre esse caminhar com meus sentimentos e largar um pouco a mão de coisas que me machucam, entendi que ao viver minha vida, devo buscar o melhor. Não me contentar com o que me faz “mais ou menos”, e sim com o que me preencha de verdade. Também, tive o lembrete de perto que essa vida é única e com prazo de validade, que devo ter a minha paz, a minha felicidade (que ainda é um estado para mim, não uma constância).

No entanto, nem todos os anos tiveram coisas ruins. Em particular, no último, tive a oportunidade de fazer amigos. E isso foi fundamental para entender: enquanto ainda sou uma pessoa sozinha (e gosto disso), tenho companhia de quem gosto, de quem amo. Assumir essas duas facetas da minha personalidade me trouxe paz. Fica aqui minha dica, caso você seja sozinho também: assuma. Não tem problema ser sozinho, e muito melhor se conhecer que forçar ficar próximo de quem nos faz mal.

Sendo bem sincera com você leitor, não sei que versão é essa que saiu de mim agora, tampouco qual seria a adulta, mais madura, calma e realizada que sou; mas pode ter certeza que gosto dela. Com o fim disto tudo, estou dando permissão que ela tome o controle, ou melhor, quando digo “sim” as mudanças, permito ser mais que sou e menos quem finjo ser. E meu próximo passo é conseguir fazer que essa versão real minha mais presente na vida, sem auto-cortes, sem impedimentos que coloco.

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Marcela Antonechen

Bacharel em Direito, barista de final de semana. Escrevo memórias, a vida e um pouco de leituras.